Nas férias de verão decidimos ir visitar a Serra da Estrela.

Como adoramos ficar nas Pousadas de Portugal, decidimos, sem hesitar, ficar hospedados na Pousada da Serra da Estrela, antigo sanatório (já, já vos contarei a incrível história deste belo edifício!), muito bem recuperado pelo grupo Pestana, que nos recebeu com a qualidade e excelência de serviço a que estamos habituados!

O dia amanheceu pelas seis e pouco. A luz surgia dourada a anunciar um dia solarengo e lá fora já se fazia sentir o calor que se adivinhava intenso mais tarde. O silêncio permitia que tudo se ouvisse. Os pássaros que cantavam alegres, as árvores que timidamente se abanavam, a água aspergida, apressada e certeira, que regava a relva.

Todos dormiam. No meu quarto, em todos os quartos. Queria aquele reino privilegiado só para mim. Sem pressas, mas sem tempo a perder, saía com o meu cão para poder, por minutos, usufruir daquela aurora mágica, que em breve se encheria de vida e de muito mais realidade que aquela que eu desejava.

Descemos a pé quatro andares até ao primeiro piso, onde se situava, mesmo por baixo da janela do meu quarto, a grande piscina azul. A água jorrada incessantemente, numa cadência melodiosa, da fonte que surgia da parede, dava a sensação de frescura, que mesmo àquela hora da manhã já era bem vinda e reconfortante.

Mais à frente, nos vastos jardins relvados e sombreados com belos pinheiros, o Dão, feliz e contente, corria livremente, brincando com a água que teimava em lhe fugir ou em molha-lo … meu querido e fiel amigo, tão bem recebido e acolhido, não sabes tu que é o homem que prega estas partidas, não a água, que é pura como tu!

O sol erguia-se com vontade dourando tudo à sua volta e fazendo despertar as janelas, que se abriam de par em par, deixando adivinhar beijos matinais, bons dias ensonados, gargalhadas de quem pequenino foge para a grande cama de hotel dos pais em férias. O dia acordava. E eu entregava o Dão aos donos que ainda viajavam pelos reinos dos sonhos. Ia tomar pequeno-almoço ao abrir da sala. Eram sete da manhã e o meu primeiro dia de férias a sério!

Eu sou daquelas que, quer na rotina diária de casa, quer nos momentos de férias nos hotéis, adoro deliciar-me com um bom pequeno almoço. No segundo caso, com direito a tudo, todos os dias. Com a balança entendo-me depois (ou não), mas comer é um prazer e eu gosto de desfrutar dos salgados, dos ovos, das compotas, dos doces, dos bolos, dos queijos (da Serra, no caso!), das frutas, dos sumos e de um cheio e aromático café (ou cappuccino). E aqui não foi diferente! Depois entreguei-me à leitura e distraí-me do mundo!

A simpatia e disponibilidade da equipa que apoiava a sala de pequeno almoço permitiu-me e à minha família, durante os dias seguintes, sentir-me muito confortável e bem recebida. E nada me agrada mais num hotel que sentir-me em casa!

Bem, o dia ia já longo para mim mas no quarto aguardavam que os despertasse. Entrei de novo batiam as dez, o ar sufocava lá fora que ninguém notava pois os estores ainda filtravam a luz denunciadora do intenso calor. Abri as janelas para a Serra. O bafo quente fez-se sentir na pele pouco coberta dos meus filhos que dormiam no quarto contíguo ao meu onde, já desperto, mas a preguiçar, o meu marido espreitava as noticias televisivas.

O Dão aguardava, pronto, para um dia de passeio. Senti-me feliz. Estava tão bem ali. Os cinco juntos, tão juntos, tão perto uns dos outros, num espaço tão agradável, com vistas infinitas de uma natureza poderosa e transformadora.Enquanto, despertavam e se preparavam fui pesquisando informação disponível sobre a Serra da Estrela e os pontos de interesse a visitar e usufruir. Havia muito a conhecer e era dia de partir para o desconhecido.

É, acho que estávamos de férias e o sentimento era de entrega.

Claro que neste primeiro dia, os pormenores do nascer do sol, do silêncio do despertar, do sossegado passeio canino, do pequeno almoço na sala vazia, da harmonia, do equilíbrio, da promessa das férias merecidas … FOI CASO ÚNICO! Chego a pensar se não terá sido um sonho, pois nos dias seguintes e durante as duas semanas que duraram as férias não mais se repetiu (pelo menos de forma tão perfeita!).

Ser  mulher casada e mãe de dois matulões mais o cãozinho, que nos acompanha onde quer que a gente vá, e querer ter férias é IMPOSSÍVEL! Mas não me estou a queixar, não! Longe disso … quando quero espaço e tempo para mim, dou dois gritos, digo que vou desaparecer e piro-me. Ninguém me chateia. Até nos voltarmos a ver. Depois … depois é assim que é e eu sou grata pela bela família que tenho!

mh