Os dias quando começam levam um rumo que nem sempre está na nossa vontade.
O meu dia começa cedo como, no geral, começam os meus dias. Por vezes, nem o Sol está acordado. O meu pensamento apressado levanta-se primeiro que o meu corpo cansado. Mas é sempre este que toma a iniciativa. Escorrega para fora da cama quente e húmida e arrepia-se com a aragem da manhã. Sigo em modo automático entre a necessidade e a vontade. Quieta, a dormir acordada, ele sente-me e encontra-me. Espreguiça-se contra o chão frio. E fiel, espera-me. Sinto-lhe o pêlo macio, que me roça as pernas despidas. Sinto também que podia seguir-me até ao fim do mundo. São assim os cães.
Abro a porta da varanda, olho a natureza do jardim comum que me dá a sensação de privilégio, respiro, agradeço. Tenho esta mania de agradecer estar viva. Acho sempre um acontecimento esta coisa de se acordar e estar vivo.
Ligo a máquina do café, mas eu não bebo café, gosto do aroma masculino, aqueço ao lume o leite (de soja) que envolvo no café. E fervo água, que misturo com outra fria, e bebo. Gosto de hábitos, de rituais. Eu sou a inconstância e basto-me. O resto, a realidade, há que ser assim. Organizada. Igual a si mesma, um dia após o outro. E os meus dias começam assim.
O dia segue como esperado mas as voltas trocam-se adiando as obrigações, sobrepondo imprevistos e, em tempos de informação instantânea, perdendo horas em nada que no imediato nos parece tudo. E desse tudo, surge o achamento.
Assim foi que achei o sinal! Eu prefiro chamar-lhe assim. É um tanto dramático. E eu sou de dramas. Mas, de facto, tratou-se, sim, de um facto. O sinal era de agora ou nunca e eu não podia mais aguardar. Por isso, para mim era um sinal!
mh