António

António.arquivopessoal

Mudava o milénio e, assim, de repente, num mês, decidi casar e casei-me à véspera da véspera de Natal com o amor da minha vida! Foi desde sempre uma soma com jeito de desgarrada, um desafio ao temperamento … ao meu, ao dele … mas assinados em papel são 15 anos!

A par, o meu primeiro projecto de empreendorismo (ainda ninguém falava dessas modernices), a visão de um Porto multicultural, com gentes de todas as línguas, que vissem o que eu via, fez-me criar o Feito à Mão e o Feito ao Lume. Projectos de alma e coração que necessitavam de investimento sério. Fiquei-me pelo mais simples, o artesanato numa loja cedida por uma fundação da cidade, localizada na zona histórica.

Estava fora de rota. Não ia lá ninguém. Por vezes, um turista incauto, um viajante aventureiro ou alguém perdido nas vielas. Uns tinham medo, outros sequer conheciam a realidade fervilhante daquelas ruelas de empedrado vertiginoso. É que, na altura, as coisas não eram como são hoje!

A loja de rua falhou. Entretanto, entreguei-me às feiras de artesanato, de terra em terra, e fui tão feliz! Não era fácil, de caixas às costas, monta, desmonta, sem autonomia, dependente de tudo e de todos, e ainda com o meu filho Francisco a acompanhar, ainda de colo, depressa senti não ser o caminho. Mas gostei muito!

Tentei um emprego 9/5, por breves meses, um escritório onde a atividade monótona e apática me fez perceber que aquela vida não era para mim. Mas a dependência não me permitia verbalizar os sonhos. Nesses dias soube exatamente o que não queria na minha vida e decidida tomei uma atitude. Era muito infeliz!

Despedi-me. Em segredo. E comecei a preparar a cave da casa onde vivia com o apoio de uma amiga (hoje, minha comadre). Pintei-a de todas as cores, dei-lhe luz e alguns móveis por medida de marceneiro.

Abria o Atelier de Artes. Eu não sabia ainda mas os trilhos entravam nos eixos!

As crianças chegavam e partiam, em busca de tempo enriquecido, preenchiam o meu dia a dia, após as suas aulas, num sopro de magia. Encontrei entre elas e amigos colaboradores, gente que me marcou para sempre. Tantas vidas, histórias, sonhos!

Eu sonhava sem limites. A uns não deixava que o tempo os levasse e eram já! Mas outros, tão grandes, adiava! Entre tantas concretizações, tirei a carta de condução, contra as minhas próprias expectativas, e até comprei um carro. É uma sensação de liberdade sensacional mas também uma vitória contra os limites de quem não acredita! E eu acredito sempre!

Numa união de coincidências cósmicas, e tal como aconteceu antes, sem que nada o previsse, surge o meu filho António, o concâvo do convexo do irmão.Tudo de novo aprendi pois são tão idênticos no amor que sinto e sentem um pelo outro, quanto distintos na essência de serem. Uma benção! Outro milagre!

E o tempo, o tempo não pára!

mh

5 thoughts on “António

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