Sempre gostei dela.
Mesmo a falar alto demais (também eu falo assim). Mesmo com as gargalhadas exageradas e sonoras (pois …) Mesmo com os gostos singulares (azul e verde são os meus preferidos). Mesmo quando todos a criticam (e só critica quem muito fala e nada faz). Mesmo quando não lhe basta a televisão e tem de disparar para todos os lados (ou não fossem todos casos de sucesso). E gosto dela porque gosta do meu Brasil, e mais ainda do meu Rio de Janeiro.
A Cristina é um orgulho.
Meu, teu, nosso, vosso. Por ser mulher saloia que se fez sofisticada sem abandonar as origens. Por nunca ter medo de arriscar (que outros medos há-de ter). Por ter orgulho em si mesma e não o esconder. Por ser uma esperança num país sem visão. Por fazer acontecer, mesmo que se nada fizesse, acontecesse na mesma.
Eu raramente vejo o seu programa da manhã. Tenho afazeres, pois como ela, trabalho muito e pouco tempo sobra para me sentar, parada, em frente à televisão. E, ao domingo à tarde ou à noite, nem sempre tenho disposição para tanta diversão. Mas vejo-a muitas vezes. E sigo-a.
Vejo-a através da minha mãe que a adora. Sim, adora-a como filha, e vibra com as suas alegrias, revolta-se quando falam o que não sabem dela e chora emocionada quando ela também se comove. Às vezes tenho ciúmes. A minha mãe reconhece mais facilmente aos outros os seus sucessos que aos dela (mas não me queixo, é assim que ela sabe amar).
E é aqui que me detenho, no amor!
Porque o amor tem muitas formas e esta é apenas mais uma. E foi assim.
Eu e a minha querida amiga Joana tínhamos agendado um fim de semana prolongado cá pelo Porto para assistir a um encontro de bloggers, para trabalhar em roteiros pela cidade e para conversarmos ao vivo, pois não nos bastam as dezenas de horas por telefone ou os caracteres do Messenger para concluir os nossos projectos futuros. Havia lhe falado do evento de lançamento do livro Sentir da Cristina Ferreira, na Alfândega do Porto. Não sei se o considerou o melhor programa de sábado à tarde, mas dado que me ouve falar com brilho nos olhos da Cristina desde o dia que me conheceu, aceitou à primeira.
Entretanto, eu e a Cristina Ferreira temos alguém em comum, a fotografa (também excelente escrevinhadora – que não sei se quer que lhe chamem escritora) Isabel Saldanha. Foi a Isabel que me captou há cerca de um ano num momento muito feliz (mas isso são outros mil e também envolve amor). E é a Isabel que capta a genuína Cristina.
Já havíamos trocado umas quantas mensagens, para um almoço ou um jantar e, de certo, um bom tinto a regar conversas soltas e risadas sinceras. Mas não houve tempo. O tempo escapa-nos. Apenas para beijos e abraços apressados (mas sentidos) e uma boleia até ao outro lado da ponte. Onde já a aguardavam.
Já vos disse a propósito de uma visita que fiz a Niterói, lá no Brasil, que o melhor que lá há é a vista do Rio de Janeiro.
Pois, com Gaia é a mesma coisa.
Estar em Gaia, por cima das caves ribeirinhas, a ver o Porto, é emocionante.
E nós, já que lá tínhamos ido levar a Isabel, decidimos ficar para almoçar e deliciar-nos com a vista. Assim deixei-a com as suas louras à porta do hotel e fui arrumar o carro na garagem. Ao entrar, não a encontrando, o consierge dirigiu-me ao 1ºandar, onde ela estaria. E estava. A Isabel, as louras divertidas montavam o charriot das malas, a Cristina, muito bonita sem qualquer traço de maquiagem, a Inês (a sua agente) e o Frade (que não sei quem é mas lhes pertence). Primeiro parei, por dois segundos, depois encolhi os ombros sem jeito e cumprimentei-a com dois beijinhos. E fingi que aquela situação era normalíssima. Subimos juntos no elevador. Despedimo-nos e cada um seguiu o seu destino. O meu era um Soalheiro fresquinho e um mal passado bife de atum acompanhado pela magia da minha cidade que estava ali à minha frente.
Pensava no futuro!
A hora do evento aproximou-se, agora era preciso partir e debaixo de uma chuva intensa chegamos à Alfândega do Porto onde mais de mil e duzentas aguardavam sentadas a miúda da Malveira. Nunca deixou, nunca deixará de ser.
A entrada foi triunfante. E que bonita estava. Todos aplaudiam emocionados. Como não ficar emocionado. Disse breves verdades suas e cedeu o palco às suas admiradoras, Cristina e Jessica, que partilharam o que sentiram ao ler o livro. Foi breve a apresentação. O melhor estava por vir.
Duas mil pessoas, durante quatro horas, aguardaram, em pé, um autografo e um beijinho da Cristina. Também lá esteve a minha mãe. Estóica, sem desistir, e olhem que não é dada a filas e muito menos a esperas. Mas valeu a pena, disse-me depois feliz.
Eu e a Joana deixamo-nos para o fim. Precisava de ver com os meus olhos a sua força, a sua energia, o seu acreditar. E vi. Linda, sempre com um sorriso rasgado no rosto, feliz. Quatro horas depois, já quase eram dez da noite, chegava a minha vez. Era praticamente a última.
Senti. Senti uma emoção como sinto sempre que estou perto de quem tanto admiro, de quem tanto me inspira. O livro já vinha autografado que o comprei assim. Mas sem o meu nome. Perguntou-me. Helena. Boa sorte Helena, disse-me, e obrigada. E eu acho que lhe disse parabéns, parabéns Cristina. Que fiquei atordoada. E, num ímpeto, fui ao meu pescoço e retirei o meu talismã, quarenta com um trevo de quatro folhas que me deu tanta sorte, e dei-lho. Oh, não o faça. Faço sim, Cristina, porque hoje encerro um ciclo e inicio outro. E a ti que também o fazes, ofereço-te para os teus quarenta anos … pois acredita, agora, eu sei, o melhor ainda está por vir!
No último sábado, a Cristina apresentou na Alfândega do Porto o seu livro Sentir. E eu estive lá. Porque o amor tem muitas formas e esta é apenas mais uma.
mh
O meu talismã estava pendurado ao peito desde os meus quarenta anos … passaram dois anos desde lá, mas a mim parece uma vida inteira, uma outra vida. Cresci tanto em dois anos. Amadureci. Sei melhor o que quero. Também eu encerrei um ciclo de descoberta e hoje mergulho mais fundo na essência do meu Ser. A mudança, pela força de acreditar, entrou na minha vida e virou tudo de pernas para o ar. Que bom! De novo recomeço. Mas sei que deixei história. E essa já estás contada. Aqui.
O livro da Cristina li-o quase todo na tarde chuvosa de domingo e deixei umas quantas páginas por ler. É que sabem, aprendi que devagar sentimos as emoções mais fortes. E assim pretendo que seja.