Por amor incondicional entendo aquele que não coloca condições, aquele que não se mede, aquele que não se assina, aquele que não tem pedido, aquele que não tem festa marcada, aquele que não se cobra.
É algo divino. É algo do universo das estrelas. Esse é o amor que eu tenho pelos meus filhos.
Hoje o Francisco, o mais velho dos meus filhos, faz 16 anos. E, por ele existir na minha vida, eu sinto-me a mãe mais feliz do mundo. E cheia de graça!
Eu sou mãe galinha. Quero saber tudo das suas vidas. Não me dizem nada. Sou chata. Pergunto. Cobro. Faço tudo por eles. Quero que eles façam tudo por eles também. Berro. Grito. Dou lambadas por onde calha. Faço-lhes a cama e falo alto, sozinha. Já não lhes chego. Dou-lhes beijos. Dou-lhes amassos. Chamo-os para jantar vezes sem conta. Berro muito. Insulto. Praguejo. Fico sem palavras. Dou-lhes sopa todos os dias. Acordo-os de manhã. Dou-lhes gomas deliciosas. Berro outra vez. Vamos ao cinema. Vemos o James Bond vezes sem conta. Vamos à praia. Ou o Phineas & Ferb no sofá de casa. E rimos, rimos muito. E choramos (eu cada vez mais!). Vamos aos hambúrgueres na baixa. Ou à pizzaria da praia. Bebemos coca-cola. Também vemos nas madrugadas das férias de Natal o Pátio das Antigas (antigo) ou Casablanca, ambos a preto e branco. E comemos pipocas. Lemos a Sophia, a Ducla Soares, o António Mota, a Alice Vieira, o Alvaro Magalhães. E os Harry Potter e todos os velhinhos da Enid Blyton (até o Noddy). Ouvimos samba (que remédio têm eles). E sambámos também. E juntinhos simulamos passos de tango. Montámos Legos e brincamos com Playmobil. Tiramos fotografias. E selfies desfocadas. Fazemos os tpc’s. Volto a berrar. Corto-lhes as unhas. Grito. Sabem as letras dos clássicos da MPB na ponta da língua que ouvem horas infindáveis nas viagens de carro, quer sejam os rápidos cinco minutos de casa ao colégio, como as lentas cinco horas para chegar ao Algarve. Nada disto segue uma ordem, nem de factos, nem de tempo.
Não somos a família perfeita. Perdemos horas a discutir sobre não dever passar horas a olhar para os écrans azuis dos Iphones, Ipads, dos Imacs. Mas fazemo-lo na mesma.
As bicicletas enferrujam na cave mais depressa que se gastam nos passeios. As bolas só são chutadas com parceiros da mesma idade.
Falámos alto, comemos com as mãos, levantamo-nos antes de todos acabarem o jantar. E esquecemos sempre a fruta, mas depois cada um trata de a comer. Colecionamos garrafas de vinho vazias no armário da sala de jantar.
Atrasamo-nos para os casamentos, os batizados, os almoços de amigos, o cinema, a escola, o emprego. Mas chegamos. E quando queremos enchemos a casa de amigos, conhecidos e desconhecidos, que rapidamente se dão a conhecer.
Preferimos o pijama ao ar livre, sem banho nem nada. Todos de pijama, o fim de semana, a despensa e o frigorifico cheios, e não precisamos de mais nada, mais ninguém. Bastámos-nos! Até que, às vezes, decidimos ir e vamos e percebemos sempre que também há vida lá fora.
Somos assim!
mh