Gira Discos

Artistas-da-mpb

Na música, o meu privilégio é dado a tudo o que me agrada … do fado ao popular, do samba à mpb, do rock ao pop … simplesmente se me agrada eu gosto, se não gosto, eu nem ouço! Simples assim!

Mas depois, na música, mais do que em qualquer outra arte, eu entrego-me a alguns … é assim desde menina … e, ultimamente, tenho pensado sobre quem teria sido mais importante na minha vida, não a vida vivida mas a vida sentida!
E, concluí, que na minha vida sentida há pessoas muito mais importantes do que as pessoas da minha vida vivida …

O meu primeiro grande amor foi o Roberto Carlos e, garanto-vos, não há amor como o primeiro … o Roberto, com aquela voz melodiosa, tão simples e imediato, arrebatou o meu coração de menina … com ele sonhei estar nos braços do amor, em beijos quentes e lágrimas de paixão … com ele, eu escolhi o meu futuro … eu queria ser feliz numa fé inabalável em mim mesma e Nele … e eu sou!

Cresci e, entre pop e rock anglo-saxónico, o Roberto, do meu Brasil brasileiro, foi-me apresentando todos os que fazem parte de minha banda sonora particular … assim logo de inicio e, a par, sempre esteve Erasmo Carlos … e eu gostava, eu gostava muito … era um bad boy e eu gostava!

Mas, depois, chegou ela … sem ser bonita, era linda … com os seus cabelos ondulados … cheia de uma sensualidade que me despertava para outros mundos … descalça era ela, Maria Bethânia … com Bethânia percebi o mundo mais profundo dos sentimentos dos homens e das mulheres … da terra, da dor, da perda e do amor … a voz era para mim um despertar que me comove até hoje!

A adolescência abria lugar a uma juventude inflamada e um Caetano Veloso cantava “Força Estranha” ao lado do Roberto e eu percebi, assumindo um pouco dessa força estranha que me enchia de amor e de alegria e que poucos entendiam mas ainda assim era como eu queria ser, sentir, amar! E Cazuza, menino rebelde, me salvava da dor da mudança!

Depois, surge uma menina magra, de lábios finos vermelhos, que conta que desde menina ouvia, sonhava, amava o Roberto e o Erasmo e que “agora quem está aqui sou eu” … era Marisa Monte … é óbvio que a amei na hora … era como se estivesse a ver-me e por isso aquela só podia ser uma boa rapariga!!!

E é … é talentosa … é poeta … é cantora … a Marisa é um mulherão, de uma voz imensa … meiga, verdadeira e que ama infinitamente e eu só podia ouvi-la sempre, a toda a hora, desde sempre e para sempre!!!!

Mas havia também um moço de olhos azuis que me intrigava, nem era tão moço assim … ele também cantava o amor … pois os poetas são, antes de tudo, mensageiros do amor … mas ele cantava muito mais … ele gritava, contestava, bebia, se enrolava, se perdia … chegou à minha vida já eu não era menina … já eu era mulher e que bem o recebi … o Chico era de outra dimensão … o Chico era não só ele mas todos os que com ele vieram … o Chico é Noel, Cartola, Caymmi… é Vinicius, é Tom, é Toquinho … e o Chico também é Roberto, Bethânia, Caetano, Elis, Gal … e o Chico somos nós, as mulheres!

Era eu a tornar-me mulher, tinha trinta e muitos anos, e as músicas da minha vida faziam-me sentir plena … uns traziam-me outros e eu não precisava de perder tempo com novidades de bolso que chegam à velocidade que vão …

A internet, o youtube e os concertos (muito menos dos que gostaria de ver e ouvir) traziam à minha vida todos os poetas, os cantores e cantoras que me davam tudo e tanto mais … menciona-los todos é tarefa difícil mas, e apesar da música inglesa, francesa, espanhola e americana também existirem na minha selecção, a verdade é que o universo musical brasileiro preenche o essencial do meu imaginário real …e há uma pérola paulistana que eu ouço sempre (todos também já ouviram, uma vez qualquer!!!) cantada por Adoniran Barbosa … chama-se Trem das Onze e tem aquele começo delicioso “Não posso ficar nem mais um minuto com você / Sinto muito amor, mas não pode ser” e por aí vai … samba canção é um género encantador e com personagens míticas da realidade carioca e da cidade da Garoa, Adoniran Barbosa é um deles!

Então, certa vez, enquanto procurava companhia para o almoço, surge Trem das Onze, a voz que me era estranha mas que enamorou … assim, desde logo, eu percebi, sem sequer saber quem era, que aquela voz me rendia. Era ela, Maria Gadú!

Prefiro chamá-la de Maria … Simplesmente Maria … No início falava com paixão arrebatadora, depois com terno amor, agora já não falo … Sorriem-me os olhos, que falam por mim … Poderia ser uma história como outra qualquer mas, a mim, diz-me muito … Tão nova, tanta vida, tanta atitude … Ao ouvi-la reflectir … Sem rodeios e meios receios, percebo logo porque ela veio ao meu encontro e eu a abracei … “É que, eu creio, ela me cativou” …

E, então sinto-me iluminada, abençoada porque os anjos existem e protegem-nos e tenho estes anjos a olharem por mim desde sempre! E por isso agradeço!

Viva a música! Viva o poder da musicalidade! Vivam os músicos!

mh