Bom dia!
Coisas improváveis acontecem!
Ontem, falava-vos de Cazuza. Não vos contei, mas grande parte da sua infância foi passada com a avô Alice, que tomava conta dele quando os pais se ausentavam. Ela ouvia canções dramáticas e melancólicas, cantadas por Cartola, Dolores Duran, Noel Rosa e Maysa (que hoje são clássicos incontestáveis da música brasileira, de tão geniais que são!). E ele amava!
Quis o destino que, anos mais tarde, ele interpretasse, e mais uma vez, imortalizasse, a canção de Cartola A vida é um moinho!
Cartola escreveu esta canção dedicada à filha Creuza quando esta completou dezasseis anos, mulher feita à época, que despertava para o amor e para a vida adulta. Era uma reflexão sobre a vida, o destino e a realidade. A realidade era muito dura e mesmo Cartola, o grande mestre Cartola, compositor de mão cheia e reconhecido poeta e compositor no meio artístico, só aos 66 anos grava o primeiro disco e vê o povo brasileiro (e o mundo) render-se à beleza das suas arte. Esta vida apenas durará mais seis anos, pois Cartola morre com cancro em 1980. No entanto, a sua consagração como grande poeta e compositor levará todo o meio artista a reinventar e reinterpretar suas músicas até ao dia de hoje, onde Cartola permanece mais vivo que nunca.
Senhoras e Senhores, com vocês, de nome Angenor de Oliveira, o poeta Cartola e seu pai (com quem não falava há mais quarenta anos).
A vida é um Moinho
Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés
A semana começa. E hoje eu quero lembrar-vos que embora a vida seja um moinho, não se esqueçam que é de lá que sai a farinha que faz o pão que é vida também!
mh
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