A Pousada da Serra da Estrela é hoje um edifício restaurado ao qual foi restituída toda a beleza e dignidade própria de uma construção tão imponente. Mas nem sempre foi assim.
Antes, no início, foi durante quarenta anos um sanatório. Depois, com a mudança dos ventos, encerrado pois não mais tinha função. Ainda tentaram transforma-lo num albergue de apoio aos montanhistas, mas sem sucesso. Até que, depois do 25 de Abril, serviu de abrigo aos retornados e refugiados de África. Por fim, já nos anos oitenta, festejaram-se uns célebres carnavais na neve mas não resistiu e ficou entregue ao abandono e degradação por anos. Até vir a ser recuperado, recentemente, após longas negociações, pelo Grupo Pestana.
Deixo-vos aqui um pouco da sua história.
Nos idos anos 20, do século passado, os Caminhos de Ferro mandaram construir na Covilhã, Serra da Estrela, nas Penhas da Saúde, o Sanatório dos Ferroviários, para curarem a maldita tuberculose. O arquiteto Cottinelli Telmo desenhou um majestoso edifício com mais de 160 metros de fachada que se impunha a quem lá passasse, tal belo era, e, para mais, num sítio sereno e de ares puros.
A sua construção levou oito anos, entre 1928 e 1936, mas curiosamente manteve-se fechado outros oito mais, sem que a CP soubesse os motivos. Mais tarde, passaria para as mãos da Sociedade Portuguesa de Sanatórios, que atribuiria cerca de cinquenta camas aos doentes mais carenciados. E assim, durante quarenta anos, milhares de tuberculosos recuperaram da doença na Serra da Estrela.
Acolhendo todos os doentes, de todas as classes sociais, a verdade é que os doentes menos favorecidos não tinham acesso a todas as alas do edifício, pois algumas estavam destinadas apenas às classes altas, que usufruíam de todo o conforto disponível, próprio de posses que tudo podem comprar.
Oito anos após a cedência, o edifício novamente muda de proprietário, passando agora para o Estado, entregue ao Instituto de Assistência Nacional de Tuberculose (IANT). O fim foi ditado pelos avanços técnicos da modernidade da ciência com recurso à quimioterapia anti-tuberculose que encerrou os sanatórios fora dos centros urbanos. O Sanatório das Penhas da Saúde não mereceu diferente sorte, e viu as portas fecharem em Junho de 1969.
Nos anos seguintes, houve a tentativa de servir de albergue, como estrutura de apoio ao alojamento na Serra da Estrela, mudando todas as camas do edifício. Após o 25 de Abril, e devido à falta de alojamento, serviu de residência temporária aos retornados e refugiados das antigas colónias. Desde os anos 80 que foi deixado a um abandono profundo, que tem originado o seu estado de degradação até aos nossos dias.
Já nos últimos anos, o Grupo Pestana encetou vários contactos que culminaram na aquisição do edifício transformando-o numa Pousada de Portugal.
Quem sobe a serra, lentamente, deixa o mundo que conhece para trás. Quando vira a curva para atingir os 1200 metros de altitude, revela-se em absoluto a Pousada da Serra da Estrela, com o seu edifício simultaneamente imponente e acolhedor, afirmando-se de imediato como o cenário essencial para uns dias perfeitos. Este majestoso edifício, do verde da serra, transfere a sua imponência e importância para quem chega, inebriando e transportando quem fica para uma estadia elegante, sofisticada e retemperadora.
Foi ao arquiteto Eduardo Souto de Moura, a quem foi entregue o projeto de recuperação do antigo sanatório, que não só preservou a traça do edifício como também a original cor salmão. Ainda recuperou as linhas mestras do seu interior como o branco imaculado e o pé-direito elevado, mas também os azulejos originais e os antigos ascensores, em ferro e madeira, que são fabulosos.
Com vista para as montanhas em redor, o vale é rodeado por árvores, que cortam a respiração e revelam novos pormenores a cada novo olhar. Aqui não tenho dúvida que qualquer um recupera o seu sossego!
mh