A primeira vez que vi um autocarro turístico foi em Londres, há uns quinze anos atrás, e possivelmente foi num daqueles filmes que ninguém lembra o nome. Era vermelho, tinha dois andares e achei-o o máximo! Não era o famoso London Bus, esse eu conhecia-o desde sempre, desde quando conhecera Londres!
A este chamavam-lhe London Hop On/Off Tours. Nunca cheguei a andar nele, anos mais tarde ainda ponderei mas não o fiz. Preferi andar a pé até não puder mais (ou de metro quando as distancias eram maiores), descansando nos pubs que adorava ou nos verdejantes relvados de Hyde Park! Mas preferia tê-lo feito.
Mais tarde, rendida à popularidade do conceito e à turista que há em mim, andaria num em Barcelona, no verão de 2004, daqueles abertos que permitem ver tudo do alto e aproveitar o calor que se fazia sentir; em dois dias, desde manhã cedo até ao fim da tarde, conheci de Barcelona de lés a lés, superficialmente é certo, mas desde o Park Guell à Ciudad Olímpica, até ao Museu de Miró e ainda ao Pueblo Español tudo vi, visitei e conheci . Em Espanha, como pela Europa Cosmopolita, eram comum, mas ainda não os havia em Portugal.
Depois em Paris, no inverno de 2009, com um frio de rachar e a nevar, passeei pela cidade mais bonita do mundo (como são todas quando estamos apaixonados!). E finalmente no Porto, com as crianças da minha Sala de Estudo, nas Férias de Verão de 2010, bem mais barato que os anteriores, mas também muito interessante para quem quer conhecer de leve a cidade que apesar de pequena, merece bem os dois dias para tudo ver.
Se gosto de conhecer assim uma cidade? Sim, gosto! Mesmo sendo caro nas grandes cidades europeias (e penso que a dimensão da cidade condiciona o preço da viagem) de todas as vezes que o decidi fazer, sendo sempre uma primeira visita, conheci todos os pontos que me propus, foi confortável e permitiu-me ter um visão ampla dos principais percursos.
Em São Paulo, bem, em São Paulo não é bem assim!
O serviço é recente – estreou em Março quando eu lá estive – e o preço é muito acessível – quarenta reais – devido à fase experimental em que se encontra. Tem vários pontos de paragem como o Mercado Municipal, a República, o Estádio Municipal do Pacaembu, Avenida Paulista – Masp, Parque Ibirapuera, Centro Cultural São Paulo, Pateo do Collegio e Theatro Municipal.
Quem está a experimentar o serviço são essencialmente brasileiros, turistas e paulistanos, e ainda poucos estrangeiros. Existem três autocarros: um aberto e dois normais que fazem um circuito circular e com previsão de tempo de espera de 30 minutos entre uma saída e entrada e três horas de duração de percurso completo. Funciona todos os dias – de segunda a sábado às 9h, às 12h40 e às 16h; aos domingos e feriados, às 10h, às 13h40 e às 17h – e sai da Praça da Luz.
Questão que urge perguntar: como é que três – sim, TRÊS – autocarros conseguem dar a volta a São Paulo e ainda permitir que os turistas saiam e visitem os pontos de interesse? Ora esta questão é uma chatice e a resposta é obvia: Não é possível!
Depois numa cidade gigante como São Paulo, nunca em tempo algum, se consegue num dia visitar os vários pontos de paragem e os seus múltiplos interesses. No mínimo, seriam necessários dois dias e o ideal três e com duas rotas distintas porque rodar a cidade toda num único circuito demora muito, muito tempo. E ainda assim será sempre de forma superficial, do tipo picar o ponto!
Conclusão, após esperar em fila uma hora e pouco, andei no horário das 12h40 (porque o anterior esgotou em minutos) até às 17h00 (último circuito) e consegui ter uma brevíssima visão dos pontos que elegi como fundamentais (em detrimento de outros) mas não os conheci como queria … tendo que fazer opções, foi por aqui que andei …
Por esta altura estava completamente perdida, sem saber bem onde estava pois o audio não era audível (?!) a impressão que dava era que estávamos numa entrada da cidade … memo assim estava fascinada pois São Paulo revelava-se, a cada instante, como um mistério que eu queria descobrir.
Não me enganava, demos a volta e entravamos na zona Centro directos ao Mercado Municipal, conhecido como Mercadão, na Rua da Cantareira. Não desci (mas sei que perdi uma experiência de sentidos … aromas, paladares, cores … das várias bancadas e bares de comes e bebes onde deveria ter ido).
Mais à frente, entrando na Avenida Ipiranga, os imponentes edificios …
Copan de Oscar Niemeyer, que estava em obras e por isso tapado com uma rede gigante que no entanto não escondia as suas originais curvas
e o Circolo Italiano, “símbolo da união italo-brasileira em sentimentos, espírito de trabalho e aspiração de um futuro tão imponente como as colunas que o erguem soberano no centro da cidade de São Paulo”
Cheguei ao Pacaembú, local que não associo directamente ao futebol mas a grandes concertos que o meu querido Roberto Carlos lá apresentou.
Entretanto já passara o Bairro da Liberdade, também conhecido como bairro japonês, e entrava em direcção à Avenida Paulista.
Como já tinha decidido que a ia calcorrear a pé no Domingo apenas me deliciei a ver os edifícios sofisticados e espelhados que me mostravam uma modernidade incontornável.
Depois veria o Parque Ibirapuera e ficava a promessa de lá voltar.
Entretanto, hoje – em Junho – já a Dilma foi mandada embora, mas na altura – em Março – contavam-se os muitos milhões que eram desperdiçados (e roubados) pelo governo ainda em exercício. A solução dizia #impeachmentJá …estava no balcão e lá em baixo a famosa 25 de março, que reune a céu aberto centenas de feirantes que vendem de tudo um pouco, desde roupa a hot-dog, quem não se lembra do Félix e da feirante Márcia da novela Avenida Brasil?
Ainda passei no Pateo do Collegio e no Teatro Municipal, onde nas escadas de pedra a miséria humana era trazida a nu, minada pelas drogas e pela desgraça de se manter vivo.
São Paulo é uma avassaladora cidade, com contrastes cruéis, mas ainda assim fantástica e vibrante, que respira mudança e transformação, que sente e vive a arte como nenhuma outra e ainda consegue ser o centro financeiro e de produção de todo um país de tamanho continental!
São Paulo é inesgotável!
mh