ADONIRAN BARBOSA

Viaduto Santa Efigénia

Retomando a minha chegada a São Paulo

SÃO PAULO

É violenta, é suja, é bagunçada. É sim senhor. Fale-me uma coisa que eu não saiba, que ninguém saiba. Alguns dizem ser a cidade mais feia do mundo. Pode ser. Não me interessam os adjetivos. São Paulo é cidade substantiva. É de verbos de ação, e também abarca os reflexivos. Deixemos as qualificações para Paris, Nova York, Roma. Na gramática, o paulistanês prefere as conjugações.

São Paulo age, trabalha, estuda, corre, anda de “busão”. A capital vai ao cinema, leva os “manos” ao shopping, inventa a moda do picolé mexicano, decreta o picolé mexicano démodé. A cidade esconde a lua com os arranha-céus. Mas ela, esperta, escorrega pelos vãos dos prédios e aparece aqui e ali, só para ver o luzidio vaivém dos carros.

São Paulo reclama do metrô lotado, diz que odeia seu tamanho monstruoso, fala que se pudesse se transformava em outra coisa. Mas é só da boca para fora: na verdade, São Paulo se adora.

Era já noite, chovia cadenciado, assim como se fosse uma música suave e morna, e no Terminal Rodoviário do Tietê milhares de passageiros chegavam e partiam, quer de camioneta, como de metro ou taxi.  Era tão grande, gigante. Estava em São Paulo e não queria acreditar. A sensação, ainda que tudo estivesse tranquilo, era de medo. Medo da Selva de Pedra. Das dezenas de milhões de habitantes, do trânsito caótico, do êxodo rural, tantas vezes miserável, da violência, da indiferença. Mas agora de nada adiantava o medo. Respirei fundo.

SÃO PAULO

Estar no Brasil, pela segunda vez em poucos meses, depois de ter sonhado a vida toda com isso, era incrivelmente assustador. Porque de repente percebi que quando queremos muito algo e, de alguma forma permitimos que aconteça, as situações convergem para a sua concretização. E isso era tão bom!

Confesso que São Paulo, para mim uma cidade de referências artísticas, principalmente musicais, nunca me despertara grande interesse comparado à paixão que tenho pelo Rio de Janeiro. Porém, a minha chegada revelou-me o contrário.

Ainda na estação de camionetas, dirigi-me à plataforma 70, onde escolhemos um táxi tarifa (também havia os táxi comuns). Era um taxi com a corrida fechada, ou seja, com preço fixo até ao destino na Alameda Jaú, onde ficava o meu hotel, o Royal Jardins Boutique Hotel. Comprei antecipadamente o serviço que custou 50 reais regateados, pois de início pediram sessenta.

O motorista, um paulistano de meia-idade, logo perguntou de onde vínhamos. Portugal. “Ah, a terrinha. Gostaria de lá ir, um dia!” disse. Nascera e vivera sempre em São Paulo, era casado e tinha dois filhos no exterior. “A vida, moça, não está fácil pra ninguém … mas co’a graça de Deus, sempre tive trabalho, formei meus rapazes, e sigo levando, eu e minha esposa” e segue bem, Sr. Osvaldo, e segue bem.

SÃO PAULO

Continuamos o caminho comigo a absorver a história simples e de labuta, frisando um ponto ou outro digno de referência. Entravamos no centro da Grande São Paulo, na cidade gigante onde vivem 12 milhões de pessoas (mais que Portugal inteirinho), distante dos subúrbios bregas e pobres, ela era sofisticada, cruel, sensual. Entrava no Vale do Anhangabaú, ao longe, vi um viaduto de ferro gigante, arrepiei-me de emoção. Era o Viaduto de Santa Efigênia!

ADONIRAN BARBOSA

Antes que duvidem da minha sanidade ao emocionar-me com uma estrutura amarela, velha e enferrujada, que rasga São Paulo … eu passo a explicar-vos … eu sou apaixonadíssima por samba carioca, e por samba paulistano, então … ah, morro de amores! Desde sempre, acreditem desde seeeempre que eu ouço Adoniran Barbosa … sabem aquela

Não posso ficar nem mais um minuto com você

Sinto muito amor, mas não pode ser

Moro em Jaçanã, se eu perder esse trem

Que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã

………………………………………

Não há quem não conheça, não é?

ADONIRAN BARBOSA

Pois eu, que conheço a obra de Adoniran e a vida que ele viveu nessa São Paulo de outros tempos, me  emocionei muito ao passar o Viaduto de Santa Efigênia que canta a seguinte história

O viaduto fica no centro de São Paulo, sendo uma das principais ligações da cidade, onde passam a pé milhares de pessoas diariamente, começando no Largo de São Bento até terminar em frente à Igreja da Santa Efigênia. Todo construído na Bélgica foi inaugurado em 1913. É um marco na cidade e uma das grandes músicas símbolo da cidade. Daí a minha emoção!

A partir dali rasguei um sorriso … caramba, a minha vida é do caraças!

mh

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