Cheguei a Angra dos Reis quarta à noitinha e saí na sexta feira Santa, pela manhã. O próximo destino era São Paulo, a grande Selva de Pedra.
Tinha duas alternativas: ou voltava ao Rio numa viagem looonga demais e aguardava a ponte aérea que me levaria a São Paulo em trinta minutos – gastando uns seiscentos reais.
Ou fazia a mítica Estrada de Santos embalada nas curvas tantas vezes dobradas pelo meu querido Roberto Carlos – gastando oitenta reais, em oito horas de viagem.
Dúvidas sobre a minha escolha? Bem, eu não viro costa a um bom desafio!
Comprei o bilhete no dia anterior e mesmo assim já não consegui o horário da manhã, tendo partido ao meio dia. Na plataforma, meia dúzia de passageiros aguardava a hora de partida, A camioneta estacionada agradou-me e até me surpreendeu … era nova e confortável e ia ainda por cima ia quase vazia. Dez para as doze, era tempo de entrar, e eu, eu instalei-me.
Instalei-me … como se num voo fosse e o tempo que duraria a viagem assim a fazia crer. Descalcei-me, recostei o encosto, levantei o descanso das pernas e olhava pela janela.
Mais uma vez, eu nem queria acreditar que estava ali a fazer aquela estrada, no meu Brasil, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, numa camioneta, pronta para mais uma aventura.
As curvas eram reais, sentido uma atrás da outra, mas seguindo tranquilos para Paraty, a primeira paragem após hora e meia.
Claro que toda a preparação que fiz no começo da viagem deu lugar a perigosas mudanças de lugar, em andamento, para tirar mais uma, só mais uma fotografia.
Tudo era tão bonito. Os morros de mata atlântica vistos ao longe cobertos de nuvens, que ameaçavam a chuva, que chegaria logo mais à frente, e os pastos a perder de vista de um verde vivo quase que pintado a lápis de cor.
E, de repente, o mar outra vez. Tudo era de facto muito belo. Acho, não, tenho a certeza, que esta beleza faz todo o sentido neste gigante de milhões que procuram paz e sossego.
Que por mais barbárie que tenhamos que enfrentar, a esperança e a luta por um Brasil melhor, mais justo e mais honesto, não vai nunca abrandar e todos e todas terão direito a uma vida digna e segura.
A meio da viagem pensei que o sono me chegasse, mas o que chegou foi um frenesim nas ideias, de personagens e enredos cruzados, com destinos tão distantes, que me agarrei ao telemóvel a escrever, sem parar, uma história. Um dia destes conto-vos!
Sentia-me entorpecida pelas horas de viagem, pela posição constante … mas feliz!
Percorremos 400km e passamos por dezenas de terras e praias desde que saímos de Angra dos Reis, entre elas Ubatuba, São Sebastião, Cambury, quase a chegar a Santos subimos para São José dos Campos até entrar em São Paulo. Chegaria pelas oito da noite e chovia. Foi emocionante!
mh
Estava pronta para fazer aquela estrada, de curva contra curva, pelo litoral brasileiro, que tantas vezes cantara. Aqui neste maravilhoso cenário Roberto canta com Seu Jorge e estes versos acompanhar-me-iam toda a viagem (e ainda leva de bónus uma surpresa extra …)
E para quem quiser sentir as curvas da Estrada de Santos …
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