#1 – Mesmo planeando tudo, o inesperado vai acontecer quando menos esperarmos. Aproveitem!
Eu não fiz muitas viagens mas as que fiz foram excepcionais. E em todas o inesperado é a lembrança que logo surge quando nelas penso. Muitas memórias fazem parte de momentos partilhados, à mesa, num passeio, num museu!
Lembro-me, num Agosto quente, em Barcelona, de terem recomendado um restaurante, lá para os lado de Lloret del Mar, que ficava num mosteiro e que era imperdível! Pensei que nada me atraía menos que aquela zona balnear mas arrisquei. Confesso que o desespero tomou conta de mim ao ver as toalhas de praia, de gosto duvidoso, penduradas nas varandas junto com a música techno debitada aos berros e jovens ingleses, ávidos de loucura, escaldados de sol, encharcados de vodka, e dispostos a tudo para viverem o momento sem limites. A vontade era dar meia volta e fugir dali.
Até encontrar a placa Sant Pere del Bosc, que me guiava a caminhos divinos, mas eu ainda não sabia.
Subi, subi, subi sem nada ver que não fossem arbustos secos de uma coutada até, de repente, encontrar a entrada do mosteiro e tudo se transfigurar. O terreno árido e despido dava agora lugar a uma horta viçosa cheia de aromas, que se sentiam à passagem, e ao fundo o edifício catalão, de estilo modernista em pedra, outrora local de culto e oração, agora transformado num aprazível e delicado hotel e restaurante com vistas para o vale.
A refeição em si não me recordo, mas sei que as sensações de prazer e degustação foram intensas, aquele ocaso inesperado, quente como são os fins de tarde no mediterrâneo, que luzia ao fundo, azul e cristalino, foi inesquecível!
Certa vez, numa ida a Itália, num romântico passeio pela Toscana, fui dar a Lucca, mais precisamente à Corte San Lorenzo, no centro, e no rescaldo da leitura do livro (e mais tarde o filme) Comer, Orar e Amar da Liz Gilbert, tinha por destino o restaurante que se situa na casa de Puccini e que serve umas pizzas maravilhosas, mas que naquela segunda-feira de Fevereiro estava fechado.
Esta fotografia da praça e da casa de Puccini foi tirada num outro dia de sol porque nesta chegada
fazia frio, chovia, estava acordada desde madrugada, tinha fome e queria sentar-me confortável num local quente e acolhedor. Nada parecido, entrei na primeira confeitaria que vi, rogando aos deuses a má sorte. Dirigi-me à sala de almoço, sentei-me e esperei. Uma nona avantajada de peso e idade disse num sorriso largo que já não serviam almoço mas que um minestrone se arranjava e umas bruschettas all alioli e pommodoro para enganar o estômago. Claro, aceitava de coração cheio e barriga vazia!
Quando dei a primeira colherada … que pena não saber traduzir o aroma que fumegava daquela taça … foi um caso de amor, senti cada pedaço do meu corpo a aquecer e a sentir aquela sensação que me tomou ao longo de toda a minha estadia por terras de Baco. Aquele caldo rico em sabores e sentimentos foi a melhor e mais inesperada chegada que podia ter tido em Itália!
Em Florença, ver o David de Miguel Angelo, tornou-se no momento mais gratificante que tive com a arte … a emoção tomou conta de mim, deixei-me estar a absorver aquele momento, e ali percebi o conceito de beleza que se definiu na genialidade de quem cria o perfeito!
Numa das muitas idas ao Alentejo, há uns anos atrás, estava grávida do meu filho António, chovia a potes, e parava na Serra de Ossa, entre Estremoz e o Redondo, para visitar uma tasca recomendada por amigos.
O Chana do Bernardino era uma pequena sala de repasto, com uma pequena equipa familiar composta pelo sr. Bernardino, a mulher, a cunhada, o filho e a nora.
Naquele domingo, ao meio dia, ninguém ainda tinha vindo almoçar, e fugindo da chuva entramos com o meu compadre à bofetada à filha mais velha que queria entrar com o guarda chuva aberto enrolando-se nas fitas de borracha colorida que dificultaram a façanha! Já com todos dentro, abrigados, e numa algazarra pegada, atrás do balcão, de rodilha na mão, estava a família de olhos esbugalhados, em silêncio e espanto, a apreciar aquela cena surreal.
Sem esmorecerem, anunciaram-nos que não havia luz mas com jeitinho e uma boca de campingaz, mais umas velas, tudo se haveria de arranjar. E arranjou … Uma década se passou, e todos os anos lá regressamos, às vezes mais do que uma vez ao ano, a lengalenga do sr. Bernardino já a conhecemos de cor e todos os pratos anunciados num dia sem electricidade são os mesmos que se servem hoje, em nova casa, novas instalações, mas com o saber de sempre!
Mas nem sempre precisei de sair da minha cidade para ter a situação mais surpreendente quanto agradável … domingo de sol, início da tarde, roupa e calçado confortáveis, pés ao caminho, na companhia de amigos de sempre, seguimos pelo passeio das Fontaínhas, descemos aos Guindais e o descanso foi na Ribeira do Porto.
Felizes e afogueados, paramos num tasco na descida para o cais, pedimos azeitonas curtidas, pataniscas de bacalhau e copos de vinho branco e rimos alto a tarde toda brindando à amizade!
E com isto, nos diversos e inesperados momentos da minha vida, soube que o mais importante é recebe-los e aproveita-los!
mh
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3 thoughts on “#1 Planear q.b. Aproveitar sempre!”