A vida em Moreré

Ligeirinho Moreré

O dia acordou nublado e tudo o que queria era estar quieta. Deitada na areia, a ouvir o mar e a ler. Estava fora da casa há quase um mês.

Boipeba II

Não tinha saudades. E tal estado deixava-me serena. Nunca tinha estado tanto tempo separada dos meus filhos. Sabia-os bem. E todo o tempo que lhes dera tinha sido tanto, que me esquecera de como era estar comigo mesma. Descobri-me de novo. E gostei. Gostei tanto que não queria voltar.

Moreré praia

Entreti-me a petiscar no Ligeirinho, nome bem merecido perante a rapidez do serviço, enquanto apreciava um nativo que vinha na minha direção e “brincava” descontraído com a sua catana (facão de meio metro com que amanham o peixe e afastam a vegetação), pensei o quanto aquela cena era anacrónica, mas de repente avistei ao longe crianças que chegavam para brincarem entre banhos de mar e corridas pela areia atrás de uma bola improvisada. Todos conviviam em paz.

Moreré praia II

Não havia ninguém a vigia-las. Eram umas cinco, talvez seis, raparigas e rapazes, de várias idades que viviam a sua fantasia sem medos, nem regras, nem limites.

Moreré praia III

Faziam da canoa o seu mundo sagrado, longe dos males do mundo, e eram felizes.

Moreré praia IV

Brincaram assim um bom par de horas. Sorriam, ouvia-se as gargalhadas sonoras, o chapinhar da água. Sem saudades, mas lembrando-me deles, pensei nos meus filhos e no privilégio de se crescer livre. Estas crianças, como os meus filhos, são, em mundos tão distantes, livres à sua maneira, e só lhes posso desejar que o saibam permanecer.

IMG_8990

Olhava o mar, do outro lado onde brincavam os moleques, diriam por estes lados, e avistava o topo de duas balizas feitas pelo engenho das mãos da terra. Uma em frente à outra com a devida distância. Estavam parcialmente submersas.

Baliza Moreré

Aqui joga-se futebol, ou não estivéssemos no Brasil, e até se fazem craques como o Liedson, grande avançado do FCPorto, lá pelos meus lados lusos, quando a maré está vaza. E nada-se com a maré cheia, concedendo tempo ao tempo da natureza nos permitir o que melhor ela nos dá.

Pôr do sol Moreré

Chegava o entardecer e a luz transformava-se numa magia sem cor definida, onde o vago dava lugar aos pensamentos que soltos se perdiam na imaginação.

Pôr do Sol Moreré II

O caminho fazia-o solitário porque não deixei por um segundo de me querer só, embora não sozinha.

Pôr do sol Moreré III

Boipeba chegou a mim na busca diária e permanente que levei a cabo durante meses a fio. Sobre o meu Brasil, sobre o desconhecido, sobre o paraíso. Levo para sempre esta sensação de liberdade. De se ser apenas e somente aquilo que se é.

mh

 

3 thoughts on “A vida em Moreré

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