Cheguei na pousada O Céu de Boipeba que ficava bem lá no alto da ilha. E sendo o ponto mais alto da ilha era bem perto do céu.
Estava estourada da subida agreste, do calor intenso, do pó colado à pele, da viagem longa, do cansaço das horas acordada que se fazia sentir.
Entrei e, logo no começo das escadas de madeira, vários chinelos repousavam, sinal de respeito ao pedido de os deixar na soleira, para não trazerem a areia e o pó para dentro.
A minha reação, ao subir os degraus e “entrar” na casa de vidro aberta sobre o nada, que ali era toda a natureza que descia até ao mar, foi de riso nervoso, de gargalhada solta. Eu não conseguia acreditar no que via.
Recebeu-me o Jesus, espanhol de Granada, que se havia apaixonado pela ilha e que ali ficara a gerir a pousada, pelo seu companheiro Vinicius, um baiano muito gente boa, e pela água fresca, que tanto agradeci e que me devolveu alguma clareza de ideias. Que lugar mais estonteante, incrível!
Depois da espectacular entrada, o Jesus levou-me ao meu quarto. Segui por um corredor de areia, onde se viam entradas de quatro quartos. O meu era o penúltimo. O calçado ficou à porta mais uma vez (e sobre calçado eu tenho muito a dizer … mais tarde) e abriu-se a porta.
A luz do entardecer não me deixava ver a dimensão de toda aquela magia! O quarto era lindo, em madeira pau brasil e portadas de vidro gigantes, que não se fecharam nunca e deixavam entrar toda a luz e toda a beleza.
A cama gigante era protegida por uma rede mosquiteira que não permitiu que nenhum ser voador incomodasse o meu sono. E a vista era serena, os sons eram pacificadores, os cheiros eram estimulantes. Este quarto era apaixonante!
A elegância dos materiais usados, da decoração eclética, da abertura despudorada da intimidade ao exterior criava uma comunhão por mim jamais vivida.
A realidade desta fantasia era dourada e barroca e isso agradava-me porque de seguida sabia que a simplicidade do verde e do azul espraiava-se no meu horizonte. E assim tudo era o que eu esperava que o céu fosse!
No alpendre, uma banheira de madeira nobre, totalmente estilizada, seria concha de banhos frios que acalmavam o calor que se fazia sentir.
Por companhia tinha, parede acima ou em saltos imprevistos, as rãs selvagens, conhecidas por pererecas, que a mim me prenunciavam a sorte e eu sentia-me bafejada dos pés à ponta dos cabelos.
A rede de algodão colorido disposta no angulo perfeito serviu-me de descanso e de reflexão.
Tanto se estava a passar que eu necessitava de uma pausa, necessitava perceber porque tudo era tão perfeito, e realizava em consciência o meu percurso, a minha vida.
E apenas me ocorria agradecer o meu pedaço de céu, o meu paraíso, a minha vida.
E adormecia por breves instantes para desfrutar do meu sonho.
mh
One thought on “O Céu de Boipeba”