Contei que vim para esta viagem carregada de um peso que, julgava eu, era o meu conforto! Avisaram-me com experiência adquirida para viajar leve. Mas não sabiam que o meu peso não eram as malas cheias, pois essas eram fáceis de carregar.
O meu peso estava nas costas, no peito, na mente e esse era tão mais difícil de aceitar quanto de largar.
E sobre a minha vida, bem, não sou de a deixar em mãos alheias, mas entrego-a a Deus, Criador dessa natureza a que também nós pertencemos, e que me faz bem, que me enche de Amor. E entrego-a a quem é de Paz, ao Candomblé, à fé preta que vem dos tempos de África e que lança aos espirito a energia do mesmo Criador. Eu sou de Fé e nessa Fé sigo. Assim, na Bahia, em Salvador, lá no bairro da Federação, ia decidida a visitar o Terreiro de Mãe Menininha de Gantois.
Porquê? Porque era minha referência de Vinicius, de Bethânia, de Jorge Amado e porque sendo eles parte de quem sou, só lá poderia ir pedir a benção, só lá poderia deixar o meu peso, só lá poderia ir buscar os meus orixás, a minha proteção.
Levantei-me cedo. Tomei um banho, dos vários que tomo ao longo do dia, e vesti-me. Não de branco, como queria, pois não me restavam mais as peças que julgava ir usar. Mas de azul que é cor do céu e é cor da paz.
Desci as escadas, tantas escadas desci, e comi alguma fruta para enganar o estômago que se apresentava torcido, apanhei um táxi e lá fui. Acho que não respirei todo o caminho.
Quando cheguei o silêncio imperava e só o sol se atrevia a escaldar quem se lhe mostrasse. Ainda era cedo e eu tinha pressa. Tinha pressa vinda de há muito atrás. Quando procuramos os deuses, os santos, os orixás sabemos bem o que têm para nos contar. Apenas precisamos que nos confirmem. E assim fui.
E assim foi, nada me disseram. Apenas que tudo estava dentro de mim. E isso já eu o sabia.
mh