Cheguei à Avenida Vieira Souto, em pleno coração de Ipanema, a minha praia, no sentido carioca de ser, sentindo que tinha chegado a casa.
Bem sei, não é difícil sentirmos-nos em casa quando à nossa volta há mar, há sol, há natureza e, de bónus, gente bonita, feliz com a vida (aquela vida) e de bem com Deus (Aquele que lhes deu toda aquela beleza e alegria) … mas eu sinto-me mesmo em casa, já o sentia antes de cá vir, agora apenas o confirmei.
Caminhei pelo calçadão de pedras tão minhas conhecidas, mesmo que nunca as tivesse, até então, calcado, pisado, desfilado, andado. Aquele calçadão que inspira quem nele passa, olhando o mar azul que abraça a areia dourada, praia de tantos corpos deitados, praia de quem goza a vida, mesmo que a vida seja dura – e que dura é por aqui a vida – mas que é dádiva agradecida todos os dias.
Segui até ao Arpoador e encontrei Tom, o maestro, que com seu violão passava talvez rumo a Ipanema. Ah, Carlos António Jobim, eu agradeço o bem que fez e faz na minha vida, todos os dias, em cada acorde, em cada verso. Sentei-me num quiosque da orla e festejei.
E assim, como retribuição desse meu reconhecimento, o maestro, quem sabe, enviou-me samba para alegrar ainda mais a minha tarde, é que eu sou do samba, e do nada surgiram três pagodeiros de pandeiro, surdo e batuque na mão, que me fizeram bater o pé e soltar gargalhadas, sendo genuinamente tão mais eu.
A tarde estava perfeita e o sol dourava a água e os eternos veraneantes entravam no mar num ritual diário de quem lava a alma e lá deixa tudo o que é ruim.
E então, num espectáculo, sem palavras que o descrevam, nem fotografias que o imitem, o sol pediu licença às nuvens que o receberam e entrou dentro delas, devagar, devagarinho, e tudo à sua volta explodiu numa magia de cores e serenidade inigualáveis, onde quer que ele também se ponha. E eu, a mais privilegiada de todas as mulheres, pois assim me senti, fechei os olhos e inspirei aquele momento, que de tão único, se repetirá todos os dias, aconteça o que acontecer.
Rendida percebo porque agradeço a minha vida, porque aceito tudo o que vivo e porque me abro a tudo o que virá.
mh
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