Saímos do Centro Histórico de Salvador ao início da tarde. Eu, o Helmut, a Rosa e o Friedrich, guiados pelo motorista indicado pela pousada, o Fábio. Ele viria a tornar-se num companheiro de viagem, agora como depois, e, por isso, mais uma vez sou agradecida! Tornou-se um amigo.
Fomos seguindo a orla, a marginal, começando na Praia da Barra, avistando o Farol, onde Salvador se transforma numa mulher de curvas elegantes e cabelos dourados, que bela é!
São cinquenta quilómetros de mar atlântico e areias douradas, as praias sucedessem umas às outras. Ondina, com seus belos hotéis. Rio Vermelho, santuário de Iemanjá e dos Orixás do Candomblé. Amaralina, com um calçadão para caminhada ou corrida, vários quiosques de água de coco e uma vista agradável. Pituba, uma massagem com o barulho do mar, azul do céu e coqueiros, é lá que se encontra. Jardim de Alah, onde as ondas impõe respeito lançando-se atrevidas contra as rochas. Boca do Rio, lugar de inspiração de meu Caetano e Gil, a verdade é que está um pouco esquecida. Piatã, para famílias e crianças. E a eternamente cantada, Itapuã, que é linda e até meio deserta.
Paramos na barraca de praia Bora Bora, próxima do famoso hotel Catussaba, uma delicia! Bem pitoresca, sossegada, frequentada por gente bonita e excelente para uma água de coco ou uma caipirinha ao fim da tarde.
A tarde segue serena, entre três improváveis companheiros de viagem, mas este factor surpresa é uma das maiores aprendizagens que eu levo desta aventura. Viajar sozinha abriu-me um mundo que, de repente, se curva aos meus pés, disponível e em comunhão.
O pôr de sol chega e o espectáculo da natureza impõe-se sobre tudo e todos e faz-se silêncio, contemplando.
Curiosamente não tive o ímpeto do banho e por isso não entrei no mar, mas a Rosa e o Friedrich queriam tomaram banho em águas calmas. Assim regressamos a Piatã, cenário idílico com o mar dourado pelo sol, que se deitava, e sereno, como os fins de tarde devem ser. Eu, o Helmut e o Fábio ficámos no calçadão e, logo fomos abordados por uns locais, que por ali estavam sentados a ver o mar e a tomar chope gelado.
Tinham estado a apreciar os gringos mas perceberam que eu não era como eles. Acharam até que era brasileira.
Ah, portuguesa! Não parece, não!
Portugal é lindo! Até muito parecido com Salvador, né?
Um dia vou na Europa! Eu até falo um chiquinho de inglês, aí é mais fácil, é não?
Trocavam entre si e connosco. Partilhamos os chopes, as conversas, o samba, as ideias, o charme, tão natural por estes lados.
A nós, juntou-se a Rosa, que adorou a água quente, e o marido, que para espanto de todos tirou um robe de seda que vestiu e assim bebeu e deu risadas com os brasucas.
Ainda tivemos tempo de beber um caldo de camarão que Toninho, homem jovem mas acabado, que tomava conta de sua mãe, vendia em copinhos de plástico e que era bom, forte e reconfortante!
Deixamos-nos estar até à hora marcada para o nosso jantar, marcado e recomendado, na Casa de Tereza. Instalado num casarão antigo, no Rio Vermelho, a decoração é muito acolhedora e eclética. No piso inferior, uma mercearia tradicional, a Vendinha de Samuel e Totó, é uma perdição. Na sala de jantar, um piano embala o ar e todo o ambiente descontraído mas de muito cuidado e atenção fazem-nos sentir em casa.
Um dos melhores restaurantes que fui e com a verdadeira, típica e deliciosa. Começou com uma cesta de “beijus” de massa e de goma, avoador, pão da casa e degustação de manteigas aromáticas, seguido de bolinhos de feijoada com couve, para terminar com a moqueca em trilogia de peixe, polvo e camarão que estava de chorar por mais. Tudo muito, muito bom!
A noite acabou com uma sensação de dever cumprido … todas as sensações vividas tinham sido muito intensas e eu estava sozinha com quem se atravessava no meu caminho!
mh
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