Os dias num navio, que se supõem semelhantes entre si, perdem rapidamente a cronologia do tempo, assumindo comando guiado pelo imprevisto. Mas antes é assim.
Tudo começa mais ou menos igual ou parecido com isto …
acordar com o despontar do sol pelas cinco da manhã, passear no deck exterior enquanto ainda está vazio e sereno, apreciar o calor suave da manhã, o pequeno almoço farto onde quase todos se apresentam, a seguir subir à piscina de um lado, os jacuzzis a borbulhar e já superlotados do outro, o sol a brilhar no alto e aquecer os corpos estendidos …
uma bebida (ainda não são 11h da manhã), animação matinal com uma dança animada, um livro desfolhado e o enredo perdido, umas palavras cruzadas (nunca entendi quem faz palavras cruzadas?!) ou mais uma bebida (ainda não é meio dia), ida ao almoço alargado e variado no Restaurante Panorama, mais duas ou três bebidas no Bar Miramar, a exigência de uma sesta na cabine, muito se dorme a bordo, outra vez na piscina, outra vez ao sol, mais animação com jogos de bola (também não entendo quem participa … mas olho, rio e divirto-me, outra vez uma ou duas bebidas (já lhes perdi a conta) …
mais umas páginas lidas, assistir ao pôr do sol, mais uma bebida para celebrar, recolher para preparar para a noite que se segue, já havia dito tudo é preparação num navio, e à noite mais ainda, cada uma é temática e se a início me questiono logo entro nas propostas: noite branca, noite rock, noite tropical, noite de hallowen, noite do capitão … o jantar no Restaurante Miramar e a atribuição de mesa (mesmo com mesas marcadas o improvável acontece e os desencontros são a toda a hora) e o após jantar: o bar Embarcadero para café e com música das bandas Blanco y Negro ou Jet Set, mais tarde o bar Rendez Vous que anuncia os encontros tardios, os espectáculos no Salão Broadway com ares de musical são visitas ao Quartier Latin, Show de Talentos com os passageiros e tripulantes a exibirem as suas qualidades escondidas, A Magia do Cinema, o Rock that never dies, entre outros que animam (ou tentam) o público presente …
e, para os resistentes, a discoteca Starlight, que na verdade nunca funcionou como tal mas como reduto dos mais noctívagos.
Todos os dias é assim. Bem, mais ou menos. A rotina instalada torna-se de repente no imprevisto. E tudo muda. A vida num navio é vida vivida ao segundo, mas eu não o descobri logo. Pensei que me retiraria para ler os muitos (demasiados) livros que tinha como meta ler. Escrever, escrever, escrever. E descansar. Acho até que julgava que me ia ausentar da vida por nove dias. Mas que sei eu?
Nada, concluo. Tudo mudou, não me era dada alternativa que não fosse começar a viver a vida e já não saber o que aconteceria a seguir. Surge o imprevisto e a rotina … já nem sei o que é rotina.
Já dizia o Comandante Nikolaos Chazapis
O nosso único objectivo é fazer este seu cruzeiro exceder as suas expectativas e assegurar-nos de que todos os seus momentos a bordo são inesquecíveis.
mh
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