Vou a caminho de Lisboa.
A velocidade frenética do comboio, longe dos meus devaneios românticos, contrasta com a calma que me leva a partir. Saí de casa despedindo-me com abraços e beijos dos meus filhos, Francisco e António, e da minha mãe. Não suportaria deixá-los no passeio da linha 8 a vê-los fugirem-me ao longe. Não. Qui-los sossegados, em casa, nos braços da avó, a pensar no jogo do Dragão e no cachorro quente do intervalo. Só lhes disse que soubessem, que tivessem a certeza, que a felicidade somos nós que a inventamos. E eu vim ser feliz!
Fechei a porta sem arrependimentos, nem saudades antecipadas. Vim com o meu marido. Na viagem curta de carro até Campanhã pouco dissemos. Não é preciso. Ele sabe que é assim que tem de ser. Dei-lhe um beijo, rápido, com um breve até logo. É que já, já teremos o nosso tempo. E eu não acredito em despedidas. Vou porque tenho de ir. Mas volto. E, por isso, não me quero despedir.
Sentei-me, olhei o Douro que me dizia “Adeus, até ao teu regresso!” e coloquei as mãos sobre as pernas e sem tremer pensei “É agora!”. Fechei os olhos e quase cheguei a Aveiro.
O comboio ía cheio de gente que ao domingo afina as suas rotinas para a semana que entra, uma mãe com um bebé de colo que choramingava, dava-lhe o peito na tentativa de o sossegar, e sossegou, jovens estudantes alegres e despreocupados, bonitos e serenos, falavam entre si com amizade e cumplicidade até Coimbra, vários turistas chineses perdidos nos seus brinquedos reais de um mundo virtual, um casal apaixonado, mesmo à minha frente, conversava e ria baixinho, um professor, sentado ao meu lado, preparava a aula do dia seguinte, em Lisboa. E outros, tantos outros. E eu!
De certo, ninguém imagina a vida de cada um. E nem é preciso. Basta que cada um viva a sua!
mh
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