Hoje não acordei cedo. Hoje a insônia não quis nada comigo. Hoje dormi a sono solto. Hoje acordei com remelas e marcas no rosto. Babada até. Dormi o sono dos justos. Acordei com a preguiça de quem dorme demais e não se farta de estar deitado. Estava tão cansada dos desdobramentos semanais entre ser a mãe, a mulher, a empresária, a amiga, a bloguer, a sonhadora, a contabilista, a dona de casa, a negociadora, a escrevinhadora, enfim, em ser eu. A dormir cinco horas (já não consigo mais) e a driblar o cansaço com cafeína e chocolate. Origami humano que se faz e desfaz em múltiplas formas, mas sempre eu.

Claro que, uma vez acordada, e em pé, o reboliço se inicia magicamente como numa roda viva, sem parar. Falta um mês. Um mês exacto e eu iniciarei a grande aventura da minha vida.

[Não a maior aventura, que estar viva e ser mãe dos meus dois é que é a maior de todas as aventuras da minha vida.]

Mas, sem modéstias, e com um medo do caraças, esta minha viagem é uma aventura das antigas, das clássicas, das vividas com borboletas a esvoaçarem na barriga, do princípio ao fim. E falta-me preparar mil e uma coisas. Partirei de minha casa com uma mala cheia de bagagem, não são roupas, nem sapatos, são promessas sussurradas ao meu ouvido. São sonhos, mandos e desmandos, certezas cheias de contrariedades.

Hoje verifiquei, pela centésima vez, os documentos necessários, as vacinas, as marcações confirmadas, os pedidos especiais, as actividades previstas e as sonhadas imprevistas, os livros que tenho de deixar e os que vou levar, as músicas ao vivo, gravadas, acústicas ou de roda de samba. As malas. Não as fiz, nem sequer em jeito de tentativa. Levo pouco. Levo-me a mim que sou tanto.

mh